‘Virou estrelinha’: como ensinar as crianças a lidar com o luto?

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Família desempenha papel essencial no acolhimento de crianças e adolescentes. É importante mostrar que morte é parte natural da vida.

O mês de novembro conta com uma data importante: o Dia de Finados, quando boa parte das pessoas recordam e prestam homenagens aos entes queridos que não estão mais aqui. Trata-se de uma data importante também para se refletir a respeito da morte e dos sentimentos que ela gera, especialmente para crianças e adolescentes, que muitas vezes ainda não sabem definir bem o que sentem.

A perda de um ente querido é um momento delicado, que nem sempre sabemos como lidar com as consequências. Trata-se de um assunto muito complexo e intenso para todos, e muitas vezes gera certo desconforto quando mencionado. O processo da perda é composto por cinco estágios: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Nem sempre esses sentimentos seguem uma sequência lógica, não existem maneiras mais ou menos corretas de lidar o processo de luto. O luto é uma experiência pessoal e única para cada pessoa.  

Segundo Danilo Suassuna, idealizador do Instituto Suassuna, que organiza e realiza congressos, seminários, workshops e extensões voltadas aos profissionais da psicologia, abordar a questão da morte com crianças e adolescentes é um desafio importante, e uma perspectiva humanista-existencialista e fenomenológica pode oferecer uma abordagem valiosa para compreender e auxiliar esse processo.

“Essa perspectiva enfatiza a importância de reconhecer a finitude da vida humana. É explicar às crianças e adolescentes que a morte é uma parte natural e que todos os seres vivos eventualmente morrem”, explica.

O psicólogo sugere que se façam perguntas abertas aos mais jovens para que eles possam expressar seus sentimentos, pensamentos e preocupações sobre o assunto. Ouça atentamente suas experiências individuais e seja honesto ao responder às perguntas. Evite dar respostas simplistas ou enganosas, pois isso pode criar confusão ou medo”, orienta.

De acordo com Suassuna, a família desempenha um papel crucial no acolhimento dos sentimentos das crianças e adolescentes, por isso é importante que ela os ajude a entender que a morte faz parte do ciclo da vida. “Encoraje a comunicação aberta e o apoio mútuo dentro da família durante o processo de luto. E para familiares que têm entes queridos em situações críticas, como na UTI, explique que a morte não acontece de um dia para o outro, mas é um processo. Ajude as crianças e adolescentes a entenderem que a morte pode ser vista como uma transição”, ressalta.

Um ponto importante, segundo o especialista, é entender que mais do que simples ausência e vazio, o luto é um processo individual que deve ser vivenciado por cada pessoa a seu modo. “Incentive as crianças, adolescentes e adultos a respeitar seus próprios ritmos de luto e a buscar apoio quando necessário. E reconheça que a dor dos adultos pode às vezes ser projetada nas crianças, por isso é importante separar suas próprias emoções da experiência das crianças, permitindo que estas processem a morte de acordo com seu nível de compreensão e desenvolvimento emocional”, alerta.

Uma orientação importante, de acordo com Suassuna, é que os adultos sempre lembrem de ser sinceros e não contar mentiras ou criar ideias fantasiosas ao falar sobre a morte de alguém. “A verdade liberta. Embora possa ser difícil, a honestidade é essencial para que as crianças e adolescentes compreendam e processem a morte de maneira saudável. A mentira, por sua vez, pode causar confusão e dificultar o processo de luto. Ao compartilhar a verdade com empatia e apoio, você ajuda a construir confiança e a promover um ambiente onde as emoções possam ser expressas de forma genuína”, conclui.

Palavra de Especialista

Como ensinar as crianças a lidar com o luto?

Por Helen Mavichian*

No Dia de Finados, um dos sentimentos mais presentes é a saudade de quem já partiu. Saudade é uma palavra que curiosamente só existe na Língua Portuguesa, embora esse sentimento, obviamente, não seja exclusivo dos que falam esta língua.

No dicionário, ela é definida como um “sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa, uma coisa, um lugar ou à ausência de experiências prazerosas já vividas”. Mas, na prática, a saudade pode ser um transporte sentimental que nos leva diretamente a uma pessoa, um lugar, uma situação, uma sensação e, até mesmo, a si próprio: sentir saudade de quem se era.  

Para ensinar as crianças a lidar com a saudade, vale lembrá-los que o tempo é incontrolável e que as pessoas que amamos deixam marcas inesquecíveis, mas é importante observar que, para a psicologia, a saudade não precisa ser necessariamente um sentimento ruim. Pode querer dizer apenas respeito à contemplação de boas lembranças, emoções que se associam a este sentimento.

Do ponto de vista filosófico, a saudade pode ser considerada a presença incessante da ausência, ou seja, um vazio – que é diferente do nada – e que insiste em ativar pensamentos e nos levar a estados emocionais profundos.

Com isso, é importante reconhecer que quando sentimos saudades de pessoas que já se foram, nossos corpos produzem certas substâncias químicas, como hormônios e neurotransmissores, que causam sensações físicas que podem mudar de pessoa para pessoa. 

Entendendo como a saudade ocorre, fica mais simples compreender o motivo pelo qual, no período imediato após uma separação, ela pode causar sintomas físicos parecidos com os da abstinência de drogas. Irritação, dificuldade para dormir, aumento de cortisol (hormônio do estresse) e um mal-estar generalizado, mesmo que em menor intensidade. Ou seja, devemos ouvir e acolher genuinamente todas dores e emoções que os pequenos expressam quando dizem que estão com saudades de uma avó, um tio ou alguém próximo que já faleceu. 

A saudade abarca um conjunto de sensações e emoções que remetem desde o passado até as sensações do presente. Uma essência que Manuel Melo, escritor português, descreve como “bem que se padece e mal que se desfruta”.

Pode parecer óbvio, mas o melhor remédio para esse sentimento é distrair as crianças – a nós mesmos, ou seja, sair da inércia e buscar outras atividades que proporcionem bem-estar, coisas que façam acelerar a percepção de passagem do tempo. 

Falar sobre a saudade também é fundamental, principalmente com crianças e adolescentes, quando esse sentimento se desperta pelas primeiras vezes, mas, claro, se o incômodo for muito grande, é recomendável buscar ajuda de um profissional de psicologia.

Mas, de um modo geral, a recomendação é conversar sobre o que aconteceu e ajudar as crianças a compreender o falecimento e a lidar com a situação de maneira resiliente. Uma conversa sincera e carinhosa, adequada à idade de cada criança, tende a ser o melhor caminho para que a situação seja compreendida e vivida. 

Usar termos como “tal pessoa agora é uma estrelinha” pode ser uma boa estratégia para introduzir a triste notícia, mas dizer “viajou e vai demorar para voltar” ou “foi morar longe” às vezes pode não ser a melhor estratégia, pois com o tempo a criança pode descobrir que a história não é bem assim e isso pode abalar sua confiança nos pais.  

Em resumo, a melhor maneira de fazer com que uma criança aprenda a lidar com a saudade é estimular que fale e expresse o que está sentindo. Isso é importante para que saiba que pode compartilhar sempre suas emoções, que não está sozinha nesse momento difícil e que tudo bem ficar triste ou ter vontade de chorar quando um ente querido deixa de nos brindar com a sua presença. Acolher os sentimentos e dar carinho facilita a que passem por essa situação com mais leveza e naturalidade.

*Psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes

Agenda Positiva

‘Vamos Falar Sobre o Luto?’: podcast quer quebrar o tabu sobre a morte

Com sete episódios, primeira temporada estreia em 1º de novembro, véspera do Dia de Finados, compartilhando jornadas e aprendizados inspiradores
O que as pessoas que viveram grandes perdas têm a nos ensinar sobre a vida? Este questionamento foi o ponto de partida do projeto “Vamos Falar Sobre o Luto?”, criado em 2016 por sete mulheres que viviam diferentes processos de luto (leia mais sobre elas abaixo).

Na época, “Vamos Falar Sobre o Luto?” ganhou um site para que as pessoas pudessem compartilhar seus relatos. Em sete anos de existência, foram centenas de depoimentos, entrevistas e dicas publicadas. Agora o projeto lança a primeira temporada de seu podcast, com data de estreia em 1º de novembro, véspera do Dia de Finados.

Serão sete episódios, centrados em sete personagens e seus processos de luto. O primeiro episódio traz o publicitário Paulo Camossa, que perdeu sua filha Amanda, com 18 anos, e foi o primeiro depoimento do site, em 2016. Ao compartilhar sobre o amor e parceria com sua filha, Camossa emocionou os leitores na época e nos anos seguintes. Agora, seu doce e comovente processo será contado novamente, em áudio.

Além de Paulo, também participam desta primeira temporada a escritora e palestrante Cris Pàz, a criadora do coletivo Mães de Manguinhos Ana Paula Oliveira, a designer e blogueira Estéfi Machado, a professora e escritora Betina Bopp (mãe da atriz Maria Bopp), o cineasta Flavio Botelho e a roteirista Renata Sofia (autora de Vai na Féda Rede Globo).

Os episódios serão lançados sempre às quartas-feiras, e mesclam histórias inéditas e já publicadas, e estarão disponíveis em todas as plataformas de áudio. “A cada episódio, um convidado com uma experiência inspiradora para compartilhar. Como toda história de luto é também uma história de amor, vamos falar de dor, sim, mas de afetos, memórias e delicadezas”, conta Gisela Adissi, uma das criadoras da plataforma.

Para embalar os relatos dos convidados a cada episódio, o cantor Thiago Pethit cedeu os direitos da música Perto do Fimde sua autoria, para a trilha sonora do podcast.

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