Claudia Rodrigues também buscou tratamento sem eficácia nos EUA

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CR’EDITOS:

Atriz e humorista Claudia Rodrigues planejou ida a clínica do Dr Marc Abreu para tratar esclerose múltipla

Em dezembro de 2022, a atriz e humorista Claudia Rodrigues, de 52 anos, diagnosticada com esclerose múltipla, doença neurológica autoimune com a qual convive desde o ano 2000, anunciou que planejava realizar um tratamento inovador no Instituto Médico BTT, comandado pelo médico brasileiro Marc Abreu nos Estados Unidos. O tratamento, no entanto, não apresenta evidências científicas de eficácia, conforme mostrou uma reportagem do Fantástico neste domingo (16/7)o que é contestado pelo Instituto.

“A minha expectativa para o tratamento é a regeneração das minhas sequelas para que eu possa ter maior qualidade de vida e volte a atuar. Esse é o meu maior sonho!”, disse Claudia. Na ocasião, ela revelou que colocou parte de seus imóveis à venda para conseguir pagar o tratamento, que custaria 5 milhões de dólares (quase R$ 25 milhões na cotação atual).

A clínica informou que cada sessão de tratamento varia entre  36 mil a 50 mil dólares e a atriz foi informada que poderiam ser necessárias até 10 sessões, o que totalizaria cerca de 2,5 milhões de reais, fora todas as outras despesas para se manter no país durante o tratamento.

Claudia estava em fase inicial de avaliação e planejamento do tratamento, previsto para iniciar em abril deste ano – a atriz já passou por pelo menos outros seis tratamentos tecnológicos inovadores como voluntária contra a doença. Mas acabou desistindo do tratamento após ouvir opiniões contrárias de vários especialistas brasileiros.

Médico chegou a antecipar como seria o tratamento da atriz

Para o caso da atriz, segundo a BTT informou em dezembro à imprensa, era indicada a técnica de hipotermia avançada guiada pelo cérebro, em que o paciente recebe estímulos de modulação de frequência termoregulatória para profundo resfriamento sistema nervoso central incluindo o cérebro e geralmente seguidos pela indução de proteínas de choque térmico.

“Os pacientes que sofrem de esclerose múltipla têm danos nas bainhas de mielina no cérebro, responsáveis pela condução nervosa. Nesses casos, modulando a temperatura do cérebro, o tratamento auxilia na ativação das células que produzem mielina, restaurando e preservando os nervos em processo de desmielinização e mantendo sua capacidade de conduzir impulsos nervosos”, explicava o dr. Abreu.

Já a indução de proteína de choque térmico para tratamento de esclerose múltipla leva a diminuição de inflamação do sistema nervoso através da redução de infiltração de células T e diminuição de citocinas inflamatórias no cérebro. “Através de validação molecular pelo Laboratório Quest, dos EUA, nós mostramos estes resultados com diminuição e normalização de citocinas inflamatórias que resultam no processo de restauração do sistema nervoso na esclerose múltipla”, acrescentou dr. Abreu.

Segundo ele, não há qualquer contraindicação no tratamento. “Fazemos uma avaliação médica em que alguns dos critérios são o estado clínico e o estágio de progressão da doença para entender se o paciente pode ser submetido ao tratamento, que é o processo que Claudia Rodrigues deve passar nos próximos meses”, informava o médico.

Entidades médicas e especialistas criticam técnica

Entidades médicas como a Associação Brasileira de Neurologia (ABN), a Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) e a Associação Médica Brasileira (AMB), no entanto, criticaram duramente a promessa de cura de doenças neurovegetativas como a esclerose múltipla por meio da técnica sugerida por Marc Abreu e afirmam não haver qualquer evidência científica que possa comprová-la.

  • “Não consigo ver nenhuma base fisiológica nesse método para tratar a doença. Isso não age na fisiopatologia da doença, não reduz os ataques das células de defesa no sistema nervoso, não age para recuperar os neurônios que estão mortos”, afirmou ao jornal ‘O Globo’ o neurologista Jefferson Becker, presidente do Comitê Brasileiro de Tratamento e Pesquisa em Esclerose Múltipla (BCTRIMS).

Em relação à base científica, ele diz desconhecer artigos que tenham o avaliado para a esclerose múltipla. “É uma técnica que não é abordada nos congressos internacionais, não há evidências científicas que comprovem o uso dessa tecnologia”, diz Becker. Ele destaca ainda os riscos de tratamentos experimentais não terem a segurança avaliada em testes e poderem levar pacientes a adiarem a adesão a terapias com base científica.

“Não tem estudos de segurança para mostrar se essa técnica realmente é segura. Então temos esse risco, além da eficácia não comprovada. E há um terceiro risco, que é os pacientes postergarem o tratamento adequado com a ideia de que aquela terapia nova vai funcionar. Com isso, a doença piora e na hora que buscam o tratamento cientificamente comprovado ela está avançada”, disse o neurologista.

Além de não existir estudos clínicos sobre a técnica, o que geralmente deve ser feitos para a avaliação de novos tratamentos, o método empregado na clínica dos EUA não tem aval para ser utilizado com essa finalidade médica. Além disso, não há testes em andamento inscritos na plataforma Clinical Trials, que monitora os estudos nos EUA.

Para o neurologista Haroldo Chagas, chefe do serviço de neurocirurgia do Hospital Federal da Lagoa, no Rio de Janeiro, a promessa com uma tecnologia ainda “sem dados clínicos ou laboratoriais sólidos” pode gerar frustração no paciente.

“Acredito que o maior problema é criar falsas esperanças para os pacientes que sofrem da doença. O método pode ser vendido como totalmente eficaz, que melhorará 100%, e assim a pessoa estará curada da esclerose múltipla, mas no final de tudo não é alcançado nem uma parcela das promessas que foram feitas sobre o tratamento. Isso pode causar até depressão e ansiedade nesses pacientes que acreditavam estar próximos da cura da doença”, disse o médico.

A esclerose múltipla é uma doença autoimune, ou seja, que leva o próprio sistema imunológico a atacar o Sistema Nervoso Central (SNC), o que compromete a coordenação motora. A médica neurologista Maria Vecino, coordenadora do Núcleo de Esclerose Múltipla e Doenças Desmielinizantes do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, explica que há fatores genéticos que levam à doença, mas há também causas ambientais que ainda não são bem compreendidas.

Para o tratamento, há pelo menos 14 drogas de diferentes tipos que buscam segurar esse processo autoimune, principalmente na fase inflamatória. “É um arsenal extremamente potente, mas não há cura”, lamenta. A médica é categórica em relação às promessas do dr Marc e ainda faz um alerta a pacientes de esclerose múltipla que venham a fazer uso desse experimento.

“O choque térmico é muito além da ilusão. Não só não existe como terapia, como no caso dos pacientes com esclerose múltipla pode ser ruim, já que uma das coisas que pode piorar a doença é o aumento de temperatura. Nós entendemos que os pacientes com doenças graves busquem soluções, mas é lamentável quando vemos pessoas vendendo ilusões”, disse Maria.

O neurologista Jefferson Becker menciona ainda o preço elevado do que considera um experimento. “Qualquer tratamento que é feito sem base científica e aprovação das agências é considerado experimental, e terapias experimentais não podem ser cobradas (financeiramente). Então é muito estranho esse custo altíssimo”, finaliza o presidente do BCTRIMS.

‘Não existe garantia de sucesso, apesar dos bons resultados’, diz médico

O Instituto BTT afirma que “desenvolve soluções pioneiras baseadas na termodinâmica cerebral, temperatura do cérebro e frequências termorregulatórias, prometendo várias aplicações em terapia, diagnóstico e prevenção de doenças”.

As técnicas aplicadas no Instituto Médico BTT, de hipotermia e hipertermia, são indicadas para pacientes com doenças neurológicas como esclerose múltipla, esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença de Alzheimer, doença de Parkinson, ataxia e outras doenças neurológicas, além de câncer.

Ele ressalta que induções cerebrais de resfriamento ou de choque de calor são procedimentos totalmente não invasivos, sem qualquer tipo de incisão, medicação, uso de anestesia, internação ou hospitalização dos pacientes, além de não apresentar efeitos colaterais negativos.

“As melhoras geralmente são imediatas e vão se consolidando ao longo dos meses seguintes ao tratamento. Mas não existe garantia de sucesso, apesar de nossos consistentes bons resultados”, reconhece o médico.

Dr. Abreu afirma que tem tratado pacientes com neurodegeneração, incluindo doença de Alzheimer, doença de Parkinson, ataxia, doença de Huntington, doenças do neurônio motor (ELA), e atrofia de múltiplos sistemas, bem como esclerose múltipla, epilepsia e outras doenças neurológicas baseadas na modulação da termodinâmica cerebral e frequências termorregulatórias.

Resultados em pacientes com esclerose múltipla

De acordo com o instituto, em 2011 foram apresentados os resultados da aplicação da tecnologia BTT para tratamento de pacientes com esclerose múltipla no congresso da Sociedade Americana de Anestesistas ASA (American Society of Anesthesiologists), em Chicago (EUA), com o trabalho científico “The Brain Temperature Tunnel: More Than a Path for Monitoring Temperature”.

A arquiteta Lílian Matos Deborba, 34, brasileira, que mora em Boston nos EUA, foi diagnosticada com esclerose múltipla em 2013 e decidiu fazer o tratamento especializado no Instituto BTT. Segundo a clínica, além de estar restaurada, desde o tratamento Lílian não teve mais nenhum surto ou perda de funções motoras.

“Fiz o tratamento com o dr. Marc Abreu há dois anos e me ajudou bastante. Quando fui diagnosticada com esclerose múltipla, durante muito tempo, tive dificuldades para caminhar e não conseguia nem sequer andar do quarto para a cozinha ou da sala para o banheiro, nem segurar a minha filha. Quando encontrei o tratamento, decidi realizá-lo. Depois disso, mudei totalmente! Hoje consigo fazer praticamente tudo, inclusive tive mais uma filha”, diz o relato enviado pela empresa em dezembro de 2022.

5 dias entre consultas, exames, testes e o túnel

Para se submeter a uma sessão na clínica do dr Marc Abreu é preciso passar por cinco dias consecutivos de consultas, exames e procedimentos em que o paciente passa por testes cognitivos, neuromusculares, de força, equilíbrio, respiratórios, oftálmicos.

O paciente é submetido ainda a testes da velocidade e amplitude da condução nervosa, além de sofisticados exames clínicos para análise molecular (pré e pós-tratamento). Durante estes dias, o paciente passa pelo procedimento de hipotermia ou hipertermia avançada guiada pelo cérebro.

“As abordagens convencionais têm um papel de diminuição da progressão da doença mas não atuam na restauração de lesões cerebrais ou sequelas. O nosso tratamento tem como objetivo restaurar as funções perdidas e devolver a qualidade de vida para o paciente como aconteceu com a Lilian, no entanto cada paciente possui uma resposta individual ao tratamento, mas temos obtido resultados restauradores de forma consistente”, informa o médico.

Ele revelou  ter tratado com sucesso um paciente de 88 anos, Christos Mitropoulos, com doença de Alzheimer e doença de Parkinson. “Ele tinha a deglutição comprometida e voltou a comer, não falava e teve a fala restaurada e ainda dependia de cadeira de rodas para locomoção e voltou a andar.”, explicou dr. Abreu.

A esposa do paciente, Eliana Mitropoulos, enviou, cerca de nove meses depois do tratamento na BTT, a seguinte mensagem: “Dr., tudo que foi prometido foi cumprido. Não tenho palavras para agradecer, nunca imaginei que veria ele andar, falar e comer novamente.”, afirmou ela.

Estudos começaram em 2007 na Universidade de Yale

Em 2007 foram iniciados estudos sobre tratamentos utilizando o Túnel Térmico Cerebral (BTT) na Universidade de Yale (EUA), pelo médico e neurocientista Marc Abreu. A descoberta do Brain Thermal Tunnel possibilitou pela primeira vez na história a medição contínua e não invasiva da temperatura do cérebro. O achado levou à invenção e patente do sistema Abreu BTT 700, aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA), a agência regulatória de saúde do Governo Federal dos Estados Unidos.

Os resultados da pesquisa do grupo da Universidade de Yale, liderado pelo dr. Abreu, revelaram que o BTT é muito mais que um caminho para monitorar a temperatura do cérebro, mas também um caminho para o tratamento com sucesso para doenças neurológicas e oncológicas. “Essas enfermidades têm uma patogênese comum associada a máquina molecular de proteínas de choque térmico. Portanto, terapias baseadas na termodinâmica cerebral podem tratar processos patológicos distintos”, explica.

Avanços no tratamento de câncer metastático

Estudos continuam a ser feitos e recentemente um relato de caso foi apresentado no congresso médico de 30 anos da Academia Americana de Medicina Anti-Envelhecimento (Longevity Fest 2022), em Las Vegas (EUA). Na ocasião, foram apresentados avanços de pesquisa e tratamento de ponta em áreas relacionadas à longevidade e qualidade de vida, incluindo o câncer e doenças neurológicas.

Segundo o médico, dados radiológicos e moleculares do paciente antes e depois do tratamento comprovavam a resolução do câncer. “Apresentamos o caso de um paciente com câncer metastático em estágio terminal que, após o tratamento no Instituto Médico BTT, teve a resolução total do câncer”, diz o dr. Abreu.

Sobre o dr. M. Marc Abreu

Médico formado pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ex-professor da Yale University School of Medicine e da Harvard Medical School, o qual projetou e patenteou as tecnologias BTT. É especialista em termodinâmica cerebral e frequências termorregulatórias e foi o pioneiro em delinear a assinatura de radiação da molécula de glicose (resultando em patente nos EUA #7403805).

Ele comanda a btt Corp, uma empresa de tecnologia médica que “desenvolve soluções pioneiras baseadas na termodinâmica cerebral, temperatura do cérebro e frequências termorregulatórias com uma ampla gama de aplicações em terapia, diagnóstico e prevenção de doenças, além de aplicações esportivas para melhoria de desempenho e longevidade”.

De acordo com a empresa, a btt Corp. utiliza o poder da termodinâmica cerebral, frequências termorregulatórias e inteligência artificial para desenvolver tratamentos moleculares por meio da indução de proteínas de choque térmico guiada pelo cérebro.

Sediada em Aventura, Flórida, EUA, a companhia diz ser “a única no mundo que possui produtos e algoritmos proprietários para monitoração e modulação da temperatura e termodinâmica cerebral de forma não invasiva por meio de sensores e indutores altamente especializados”.

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