Mais uma vez, como ensina o Barão de Itararé, de onde menos se espera é de onde não sai nada mesmo
(J. R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 2 de novembro de 2024)
É óbvio, por qualquer critério que se queira adotar, que o brasileiro é um dos seres humanos mais oprimidos do mundo pelo crime. A ameaça real, imediata e perigosa, no seu dia a dia, não é a Faixa de Gaza, a “crise climática” ou a bancarrota da indústria naval. É o revólver apontado para a sua cabeça pelo bandido que quer tomar a moto que ele usa para trabalhar, o cartão do banco e o celular. A única atitude pública eficaz para proteger o cidadão do crime é tratar o crime como crime. É tudo o que não se faz.
Após quase dois anos de meditações, o governo federal achou que estava na hora de conversar um pouco sobre a questão prioritária para o brasileiro comum — a defesa da sua vida, da sua família e da sua propriedade. Mas o que fez, no mundo dos fatos, foi só isso: conversar. Conversaram durante mais de quatro horas seguidas: os magnatas da máquina federal, os gatos gordos da polícia e os governadores. Obviamente, não se resolveu nada. Como seria possível resolver alguma coisa numa reunião com dezenas de pessoas na mesa? Isso não existe.
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Mais uma vez, como ensina o Barão de Itararé, de onde menos se espera é de onde não sai nada mesmo. O Brasil vive hoje numa situação de território invadido e progressivamente ocupado pelo inimigo — o crime organizado, desorganizado e convencido, cada vez mais, que a polícia, a Justiça e quem mais vier são impotentes contra ele. Num mundo racional, a única opção do aparelho do Estado seria combater o inimigo, como se combate uma tropa invasora. Foi a única coisa que não fizeram na reunião.