De médico a paciente: urologista revela como superou câncer de próstata

CRÉDITOS: https://vidaeacao.com.br/de-medico-a-paciente-urologista-conta-como-enfrentou-cancer-de-prostata/

‘O corpo pode adoecer, mas a mente pode sair mais forte’, diz o Dr Fabricio Carrerette, que desenvolveu nova técnica cirúrgica, semelhante à robótica

Acostumado a orientar e acolher pacientes de câncer de próstata ao longo de mais de 30 anos de carreira, o médico urologista Fabrício Carrerette, de 60 anos, se viu, de uma hora para outra, do outro lado da mesa do consultório.

Mestre e doutor em Ciências Médicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), onde também é professor e pesquisador, ele estudava o câncer de próstata até ser surpreendido pelo próprio diagnóstico — justamente enquanto acompanhava o pai em uma UTI.

A experiência com o câncer de próstata transformou a vida e a carreira do médico, professor e pesquisador. Hoje, Carrerette alia conhecimento científico e empatia para orientar pacientes sobre a importância do diagnóstico e tratamento precoce, tema central da campanha Novembro Azul.

A primeira mensagem é que o diagnóstico do câncer de próstata não é uma sentença de morte,” afirma o médico. “O preconceito ainda afasta muitos homens do consultório. Mas quanto antes se faz o exame, maiores são as chances de cura”, alerta o médico, referindo-se ao exame de toque retal, um tabu entre o público masculino. “Os homens têm que perder um pouco esse medo, esse receio, não só do exame como também do próprio tratamento“.

Sobre o  medo dos homens de perder a potência sexual por causa do tratamento do câncer de próstata – fato que leva muitos pacientes ao diagnóstico tardio, muitas vezes em estágio avançado -, o especialista é pragmático e objetivo.

Se você não tratar o câncer, aí sim vai ser pior, porque aí você não vai ter nem vida para ter potência, nem é nem continência urinária. A primeira preocupação é com a saúde, com a vida, né, primeira vida,” alerta o Dr. Carrerette, reforçando que o diagnóstico precoce permite a cura e a preservação da qualidade de vida.

Técnica cirúrgica inovadora e pesquisa científica

Membro da Sociedade Brasileira de Urologia e da European Association of Urology, Carrerette se tornou uma referência nacional em saúde masculina e cirurgia urológica. Por meio de sua atuação no ensino e na pesquisa, ele desenvolveu uma técnica cirúrgica inovadora com resultados semelhantes à cirurgia robótica, ampliando o acesso a tratamentos de ponta.

Seu caso, de tumor volumoso, levou-o a publicar o primeiro relato da literatura mundial conectando a prostatite pós-Covid-19 e a oncogênese prostática. Segundo o especialista, seu caso é inédito: um câncer de próstata causado por prostatite (inflamação da glândula) adquirida após a infecção por Covid-19.

Recentemente, ele publicou um artigo científico na revista suiça Frontiers Oncology sobre o tema ‘Evolução do câncer de próstata após prostatite relacionada à COVID-19 em um paciente com alteração no gene TMPRSS2: relato de caso e revisão da interface molecular entre SARS-CoV-2 e oncogênese prostática – veja aqui.

Fabrício se tornou um exemplo de superação e compromisso com a medicina humanizada. Sua história mostra que, mesmo diante da doença, é possível transformar a própria jornada em fonte de conhecimento e esperança para outros homens.

Deixei de ser apenas o médico que estuda câncer — tornei-me alguém que o viveu, o enfrentou e o superou, isso me torna mais parecido e próximo dos meus pacientes”, revela, em depoimento exclusivo ao Vida e Ação (confira abaixo).

Veja em nosso canal do Youtube a entrevista dele à editora do Vida e Ação, Rosayne Macedo, no estande do portal, durante a Fisweek 2025.


youtube.com/watch?time_continue=33&v=UDAHd7tS9BE&embeds_referring_euri=https%3A%2F%2Fvidaeacao.com.br%2F&source_ve_path=Mjg2NjY

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Palavra de Especialista

‘Percebi que estava tão vulnerável quanto qualquer outro homem’

Por Fabrício Carrerette*

Tenho 60 anos e, até pouco tempo atrás, falava todos os dias sobre o câncer de próstata apenas do ponto de vista médico e científico. Até que, de repente, ele passou a fazer parte da minha própria história.

Tudo começou com o aumento do PSA, um exame que costumo solicitar a centenas de pacientes, o PSA é uma proteína produzida pela próstata e que aumenta nos casos de doenças da próstata como a prostatite e o câncer, no início achava que o meu caso se tratava de apenas uma prostatite.

Quando fiz a ressonância magnética multiparamétrica da próstata, o resultado foi claro: havia algo muito errado, não se tratava apenas de uma prostatite. Mesmo conhecendo profundamente a doença e tendo acesso à melhor tecnologia, percebi que estava tão vulnerável quanto qualquer outro homem.

biópsia confirmou um câncer de próstata de alto volume, atualmente essa é a única forma de diagnosticar um câncer de próstata.

Receber esse diagnóstico foi extremamente duro — e ainda mais difícil porque eu estava em um CTI no interior do estado, acompanhando meu pai de 88 anos em um tratamento delicado. Agradeço aos colegas de Itaperuna (RJ) que agilizaram o cuidado com ele, permitindo que eu voltasse ao Rio para iniciar o meu tratamento o mais rápido possível.

Diante de mim, havia dois caminhos:

  • tradicional, a cirurgia robótica, já bem estabelecida, mas que em casos de tumor de alto volume ou de alto grau pode não funcionar tão bem. Outros tratamentos como a radioterapia também poderia ser uma opção, entretanto eu estava com 59 anos e a radioterapia deve ser acompanhada de um bloqueio hormonal por um período longo;
  • outra opção era uma inovação: o tratamento de neoadjuvância com bloqueio hormonal, que reduz o volume e grau do tumor antes da cirurgia, o que permite uma retirada completa do tumor.

O problema é que este tratamento é experimental, participo de estudos internacionais com esta forma de tratamento, porém, os resultados somente estarão disponíveis para os médicos dentro de dois a três anos, não é um tratamento que pode ser feito em qualquer clínica.

Escolhi o experimental e me submeti ao mais importante experimento da minha vida, o tratamento do meu câncer de próstata. Iniciei a neoadjuvância com bloqueio hormonal, seguindo protocolos que estudo há mais de seis anos, os maiores e mais importantes estudos internacionais nessa área.

‘Bloqueio hormonal apaga não apenas a libido, mas a energia e o ímpeto’

Mesmo conhecendo cada gráfico e resultado da minha prática como cientista e da literatura mundial, viver o tratamento na própria pele foi transformador. O bloqueio hormonal apaga o motor da identidade masculina — não apenas a libido, mas a energia e o ímpeto. Isso me fez entender com profundidade o que meus pacientes sentem. Mantive o equilíbrio com exercícios físicos, alimentação equilibrada e trabalho constante, o que foi essencial.

O desafio aumentou quando a imunohistoquímica, um exame genético mais minucioso da biópsia da próstata, revelou um tumor agressivo, com menos de 3% de chance de resposta ao tratamento que eu havia escolhido.

Ainda assim, decidi confiar no protocolo e realizei o exame mais avançado disponível, o PET-Ressonância, que mostrou uma redução de mais de 80% do volume tumoral.

A cirurgia robótica foi realizada e bem sucedida. No outro dia já estava em casa, retornei ao trabalho com menos de 15 dias. O bloqueio durou mais sete meses, no total 13 meses sem o hormônio masculino, a testosterona, e com todas as consequências.

O tumor foi completamente removido, as funções fisiológicas — inclusive a potência sexual e a continência urinária — foram preservadas.  O resultado histopatológico, embora não tenha mostrado uma resposta completa (ausência total de tumor), considerei muito favorável com diminuição de mais de 80% do volume e 50% do grau do tumor.

‘Viver, enfrentar e superar o câncer me torna mais próximo dos meus pacientes’

Hoje carrego uma pequena cicatriz, mas um aprendizado gigantesco. Viver o que eu estudava me transformou. Entendi que o corpo pode adoecer, mas a mente pode sair mais forte.
Deixei de ser apenas o médico que estuda câncer — tornei-me alguém que o viveu, o enfrentou e o superou, isso me torna mais parecido e próximo dos meus pacientes.

E por isso, minha principal mensagem aos homens nesse Novembro Azul é:

  •  façam seus exames priódicos.
  • não esperem sintomas.
  • o diagnóstico precoce salva vidas.

Quando o câncer de próstata é detectado no início, as chances de cura ultrapassam 90%Hoje continuo atuando como médico, professor e pesquisador, coordenando estudos sobre terapias inovadoras, como a neoadjuvância hormonal associada à cirurgia robótica e podendo oferecer o que há de melhor e mais moderno para meus semelhantes.

Fabricio Borges Carrerette é médico urologista, pesquisador e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Atua no Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) e em clinica privada no Rio de Janeiro e Petrópolis (RJ).

Com informações da Assessoria de Imprensa

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